‘Eu me vi perdendo minha filha por ser negra e ela não’, diz mãe

O caminho que Jamille Azevedo percorreu, entre São Paulo e Belo Horizonte, na última segunda-feira (26), foi além da rodovia que liga os dois Estados. Passou pelo preconceito e pelo racismo sofridos, diariamente, pelos negros no Brasil.

 

Ela viajava com sua filha, que é branca e tem 1 ano e 5 meses, depois de passar o fim de semana com o marido, na capital paulista, onde ele trabalha, e viveu momentos de desespero, durante uma das paradas para lanchar e ir ao banheiro.

 

Ela viajava com sua filha, que é branca e tem 1 ano e 5 meses, depois de passar o fim de semana com o marido, na capital paulista, onde ele trabalha, e viveu momentos de desespero, durante uma das paradas para lanchar e ir ao banheiro.

 

Logo que desceu do coletivo, na cidade de Perdões (MG), uma mulher aproximou-se e deu a mão à criança. Em um desabafo emocionado na rede social, a mãe contou que, de início, não viu nenhum problema e pensou se tratar de uma brincadeira.

 

Depois, percebeu que havia algo errado. “Na saída, uma moça bonita com aparentemente uns 30 anos deu a mão à minha filha. Eu achei que ela estava brincando então não me importei muito, quando do nada essa moça começou a gritar: ‘solta a minha filha’. Ela veio atrás gritando e tentando puxar a minha filha do meu colo. Ninguém fazia absolutamente nada!!!! Quando um funcionário chegou perto e perguntou o que estava acontecendo e ela respondeu: ‘Essa preta roubou a minha filha’”, relatou.

 

Como se não bastasse o transtorno, Jamille ainda foi acusada por várias pessoas que estavam no local. “Eu me vi perdendo a minha filha simplesmente por ser negra e ela não”, disse Jamille, que é estudante. “Vi meu mundo cair, pegaram a minha filha do meu colo e entregaram a ela. Vi ela andando em direção ao carro com a minha filha no colo”, descreveu.

 

Em desespero, a mãe não conseguiu sequer lembrar que estava com os documentos da menina na bolsa. Só atentou para isso quando o motorista do ônibus a questionou sobre como ela havia conseguiu embarcar com a criança.

 

“Eu fiquei muito apavorada e não sabia como provar o contrário. O motorista do ônibus me perguntou como eu havia conseguido embarcar com ela e me lembrei que o RG e o CPF estavam em minha bolsa”, contou Jamille.

 

As pessoas continuavam duvidando e a via-crúcis da mãe só terminou depois que ela mostrou, além dos documentos, imagens do Facebook e do próprio parto. “A mulher ficou lá, se esguelando, gritando, e as pessoas que a deteram ficaram aguardando a chegada da polícia. Eu vim embora com uma sensação horrível, de que isso ainda vai acontecer muitas e muitas vezes. Por causa do racismo e do preconceito, eu quase perco a minha filha.”

 

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