Menina de 11 anos luta para passar por cirurgia de mudança de sexo: “estou no corpo errado”

unnamed (1)Uma criança australiana de 11 anos luta na justiça para conseguir autorização para realizar uma cirurgia de mudança de sexo. Insatisfeita com o corpo com o qual nasceu, Isabelle Langley decidiu conversar com a família para poder ser reconhecida como menina. “Eu falei pra minha mãe que não queria ser um garoto, porque me sentia como menina. Estou cansada de viver neste corpo”, explicou. A decisão de Isabelle aconteceu há pouco mais de um ano, quando ela havia completado apenas 10 anos.

 

A mãe da criança, Naomi McNamara, disse que a filha agiu com muita naturalidade diante da questão. “Ela me disse: ‘não gosto do meu corpo; não é certo eu estar nesse corpo’. Falei que era normal se sentir estranho, porque o corpo está crescendo, mas Isabelle foi enfática: ‘não, eu sinto que sou uma menina e estou no corpo errado”, explicou.

 

Isabelle, que recebeu o nome de Campbell ao nascer, desde cedo demonstrava não ter afinidade com o universo masculino. Quando criança, ela sempre brincou de bonecas e se sentia feliz usando vestidos cor de rosa e fantasias de fadas com asas. “Nunca gostei das coisas de garoto. Minha vida inteira preferi brinquedos de meninas. Tentei lutar contra isso por um tempo; tentei parar, mas não consegui”, conta.

 

Andrew Langley, pai de Isabelle, lembra que estranhou o comportamento da filha quando mais jovem. “Adoro esportes, mas nunca consegui colocar Campbell nos esportes. Ele também nunca gostou de carrinhos. Chegava em casa e ia direto para caudas de sereias e vestidos de Cinderela”, lembra.

 

Decisão assustou parentes

 

A decisão de Isabelle nem sempre foi encarada com naturalidade na casa da garota. “É uma montanha russa emocional. Meus primeiros pensamentos foram para Campbell, como ele ia lidar com isso e as barreiras sociais que iria enfrentar”, disse o pai dela.unnamed

A mãe concorda. “Achamos que ele era gay e já me imaginei segurando a bandeira do arco-íris. Seria ótimo! Mas quando realmente entendi do que se tratava, pensei: ‘por que ele não poderia simplesmente ser gay?’ Seria mais fácil, pensamos na época. Obviamente, são duas coisas completamente diferentes”.

 

Reconhecida claramente como uma criança transgênero, Isabelle precisou acionar a Justiça para conseguir mudar de sexo através de cirurgia. Pela lei australiana, crianças e adolescentes transgênero precisam de sentença judicial para passar pelo tratamento, que envolve a aplicação de hormônios para bloquear a mudança no tom da voz e o crescimento de pelos. Além disso, é necessário acompanhamento psicológico.

 

Como ainda é muito jovem, Isabelle está passando por um tratamento médico, acompanhado por sua pediatra, que é leve e reversível. “Eu não sabia que havia tratamento pra minha condição. Procurei na internet e achei muitos sites explicando o que a gente pode fazer quando se sente como menina. Dizia que tem uma cirurgia especial, que quero fazer quando completar 18 anos. Quando for maior, posso fazer a operação de mudança de sexo, que vira o pênis de fora para dentro, transformando-o em uma vagina. Assim, eu vou poder usar mais roupas de meninas”, explica a criança.

 

A segunda etapa do tratamento, que é a mudança de sexo em si, só poderá ser feita quando a jovem tiver 16 anos. Ela precisará ir aos tribunais para provar que é capaz de tomar a decisão e que tem maturidade para isso, já que não tem como reverter.

 

Isabelle está tão certa da sua decisão que já estudou muito sobre o assunto. Ela leu, inclusive, uma pesquisa que aponta que no país em que vive, 30% dos jovens transgênero e não podem passar por tratamento optam por suicídio, enquanto 50% tentam se mutilar. Os pais ficaram apavorados com os dados. “Quando vi as estatísticas, pensei: ‘tenho uma criança feliz. Isso não vai acontecer, porque vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para que ela tenha felicidade e uma vida longa'”, disse o pai dela.

 

A criança, que já sofreu muito bullying na escola, passou a ser respeitada após se assumir como menina e receber apoio da família, que procurou a instituição para mediar a relação dela com os colegas.

 

Correio 24 H – Foto AFP

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