Pastor molestou o filho e o enteado antes de matá-los, conclui polícia

A Polícia Civil concluiu que o pastor George Alves matou o próprio filho e o enteado em Linhares, na região Norte do Espírito Santo, segundo o inquérito policial divulgado nesta quarta-feira (23).

 

A perícia aponta que o acusado estuprou as crianças, agrediu e colocou fogo nelas ainda vivas. A polícia disse que o inquérito vai ser encaminhado à Justiça na próxima semana.

 

O acusado está preso temporariamente e a Justiça decidiu prorrogar a detenção por mais 30 dias. Ele foi indiciado por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulneráveis. A soma máxima das penas pode chegar a 126 anos.

 

A mãe, de acordo com o inquérito, não tem participação no crime e não é investigada. Ela foi procurada pela reportagem, mas não quer se manifestar neste momento.

 

Jaretta contou que, para ocultar o ato sexual, George agrediu as crianças, o que foi comprovado pelos vestígios de sangue no banheiro, que o exame de DNA atestou ser de Joaquim.

 

O delegado disse ainda que os meninos morreram pela carbonização. “Isso tudo é comprovado pelo exame pericial. As crianças continham fuligem na traqueia e o exame demonstrou que elas ainda respiravam quando começou o incêndio”, afirmou.

 

André Jaretta explicou que, depois de tudo, George saiu de casa e não chamou socorro, até que alguém aparecesse.

 

“Feito isso, o investigado foi para a parte externa da casa e, sem que abrisse o portão, ficou andando de um lado para o outro, até que vizinhos vissem o cenário e, por conta própria, prestassem auxílio. Mas, quando eles chegaram, não havia mais condições de socorro”, destacou.

 

O secretário de estado de Segurança Pública, Nylton Rodrigues, falou sobre o resultado das investigações.

 

A defesa disse que ainda não teve acesso ao inquérito. “Até o momento a defesa não teve acesso a uma perícia que pode incriminá-lo. Estamos aguardando para podermos nos manifestar sobre isso”, disse a advogada Taycê Aksacki.

 

O caso

 

Os irmãos Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos, e Joaquim Alves Salles, de 3 anos, foram encontrados mortos no dia 21 de abril, na casa onde moravam em Linhares. Inicialmente, o pastor George Alves, que é pai de Joaquim e padrasto de Kauã, disse que os meninos morreram em um incêndio que atingiu apenas o quarto onde as vítimas dormiam.

Na residência, estava apenas o pastor e os meninos. A mãe das crianças, Juliana Salles, estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal. Ela está em Linhares e não fala com a imprensa.

 

Depois de três perícias na casa da família e de ser interrogado duas vezes, o pastor teve a prisão temporária decretada por 30 dias, no dia 28 de abril. No dia 17 de maio, a polícia pediu a prorrogação da prisão e afirmou que George estava sendo investigado por homicídio.

 

No dia 22 de maio, foi o Ministério Público quem pediu à Justiça a prorrogação da prisão temporária do pastor.

 

Dois dias depois da morte dos irmãos, o pastor George Alves, deu uma entrevista à imprensa contando detalhes sobre a sua versão do incêndio.

 

Na ocasião, ele disse que tentou entrar no cômodo para salvar as crianças pelo menos três vezes. “Escutei os choros, a gritaria, eles gritando ‘pai, pai’. Pus a mão na cama e queimei as mãos, mas não consegui pegar”, disse.

 

Segundo George, o fogo começou por volta das 2h. Ele contou que, ao colocar Joaquim para dormir, ligou o ar condicionado e a babá eletrônica, equipamento que monitora o que acontece no quarto das crianças.

 

“Por volta de umas 2h da manhã, escutei a babá eletrônica, os gritos deles, vi o fogo muito grande [através da babá eletrônica], corri desesperado, e a casa já não tinha energia. Eu empurrei a porta do quarto deles, que estava entreaberta, eu só havia encostado por causa do ar condicionado, entrei. Quando entrei, escutei os choros deles, a gritaria, eles gritando ‘pai, pai’. Pus a mão na cama, queimei as mãos, não consegui pegar”, lembrou George.

 

Ele afirmou que Kauã tinha descido da beliche onde dormia para tentar ajudar o irmão e se proteger. “Eles se abraçaram, eu não consegui, o fogo estava muito quente, queimei meus pés, minhas mãos. Eu saí, estava só de cueca, gritando. Comecei a desesperar, duas pessoas vieram e me tiraram da casa, eu tentei uma três vezes entrar para salvar mas já não ouvia mais a voz deles”, lamentou o pastor.

 

Quem é o pastor

 

Antes de virar pastor da Igreja Batista Paz e Vida, em Linhares, George Alves, de 36 anos, trabalhou como cabeleireiro ao lado da mulher, Juliana Salles. Ele também atuou como cabeleireiro em São Paulo, onde nasceu e chegou a dar cursos na área de beleza.

 

George e Juliana se conheceram na capital paulista. A esposa servia de modelo para trabalhos do marido como cabeleireiro. Ao se mudarem para Linhares, o casal abriu um salão no térreo do prédio onde morava, no bairro Interlagos, em 2014.

 

Não há informação precisa sobre o motivo da mudança do casal para a cidade do Norte do Espírito Santo, onde Juliana tem familiares. Uma amiga que não foi identificada disse apenas que “a vida dos dois era tumultuada” em São Paulo.

 

Fonte: G1

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