Cuidado! 81% dos programas de comédia familiar expõem crianças a diálogos sobre sexo

Os programas de comédia veiculados na TV frequentemente abordam questões e/ou situações relacionadas à prática do sexo. Agora, um levantamento trouxe dados concretos para a discussão: mais de 80% dos programas de TV classificados como “comédia familiar” têm diálogos sexualmente explícitos em cenas com crianças.

 

A descoberta foi feita por uma entidade independente de observação da mídia nos Estados Unidos, o Parents Television Council (PTC), de cunho conservador. Como a maioria dos programas de TV norte-americanos terminam sendo transmitidos no Brasil por emissoras de TV por assinatura ou serviços de streaming, como o Netflix, a constatação funciona como alerta.

 

O relatório foi divulgado na última segunda-feira, 10 de setembro, pelo PTC. Segundo informações do portal The Christian Post, a entidade documentou o uso generalizado de linguagem sexual em programas de televisão em várias redes e revelou que as próprias emissoras rotulam como adequadas para a família.

 

“O que estamos vendo é o sapo na água fervente, quando a temperatura sobe, o sapo não percebe o quão quente ficou”, disse Tim Winter. “Certamente vimos nos últimos anos um aumento no conteúdo sexualizado, especialmente para meninas jovens”, acrescentou.

 

Dentre os diversos programas de TV analisados estão alguns famosos no Brasil, como American Housewife, Family Guy, Black-ish, Modern Family, Young Sheldon e Os Simpsons, entre outros.

 

“Todas as ‘comédias familiares’ transmitidas pela CBS, NBC e Fox continham casos de diálogos sexuais de adultos na presença de crianças, e 80% das ‘comédias familiares’ da ABC“, destaca o relatório do PTC. “No entanto, a ABC teve as instâncias mais individuais de tal conteúdo. Isso se deve em grande parte ao fato de a agenda da ABC conter muito mais comédias familiares do que outras redes. A rede com o segundo maior número de casos foi a Fox. A NBC ficou em terceiro lugar, com quase todas as suas instâncias de séries lançadas para 2018″, contextualizou.

 

O programa com o maior número de casos de linguagem sexual adulta na frente de crianças, de acordo com o relatório, foi a série AP Bio, da emissora NBC, seguido por The Mick (ABC), American Housewife (ABC), Life in Pieces (CBS), e Family Guy (Fox).

 

Em um episódio da série AP Bio, transmitido em 01 de fevereiro, um professor do Ensino Médio é visto dizendo a seus alunos sobre como sua namorada o recusou para o sexo. O professor continua seu relato, explicando como ele ficou bêbado e disse a um policial para dar a ele “prazer sexualmente”.

 

“O programa é sobre um professor de biologia de Harvard que se sente insatisfeito com o Ensino Médio. Ele apenas expulsa toda a sua frustração sexual em frente às crianças da escola”, disse Winter. “Se você pudesse imaginar na vida real – e você é um pai com uma criança de idade escolar -, a noção de um professor sentado lá e dizendo o tipo de coisas sexualmente explícitas que este professor faz, realmente chocaria sua consciência”, destacou o diretor do PTC.

 

Um episódio de The Mick, de novembro de 2017, mostrou um personagem adulto e um personagem de 8 anos jogando um video poker em um bar. O jogo apresentava uma mulher usando sutiã. Conforme o jogo avança, a mulher no jogo passa a oferecer suas roupas. Em um ponto da cena, a menina de 8 anos declara: “Eu posso ver o seu seio”.

 

“Eu sinto que você é um pouco jovem demais para este jogo, mas o dano já está feito. Vamos ver se conseguimos pegar esse outro mamilo”, comenta o personagem adulto, que posteriormente pede à sua namorada um quarto porque o personagem de 8 anos de idade é “um macaco longe de descobrir a vagina”.

 

“Quando o conteúdo é normalizado, torna-se aceitável e as crianças são dessensibilizadas”, disse Winter. “Mesmo o pai mais diligente fazendo o melhor que pode para incutir seus valores em seus filhos, eles estão fazendo o que podem, mas quando a mídia de entretenimento e a cultura dizem às crianças que o oposto é o que todo mundo pensa, fica demais para um pai o século 21”, ponderou.

 

Após críticas e baixa audiência, a série The Mick foi cancelada pela Fox no início deste ano. A decisão foi elogiada pelo PTC.

 

Embora nenhum programa apresentado no estudo tenha ficado totalmente claro sobre a linguagem sexual, havia seis programas que tinham “muito pouco” ou “praticamente nenhum” conteúdo inadequado, de acordo com o chefe de operações de pesquisa do PTC, Christopher Gildemeister. A lista inclui Kevin Can Wait (CBS), Man With a Plan e Fress Off the Boat (ABC), The Middle (NBC), This is Us e Jane the Virgin (CW).

 

O PTC acredita que há uma necessidade desesperada de reformar o sistema de classificação de faixa-etária na TV, a cargo da Federal Communications Commission (FCC) nos EUA. “Quando você olha para alguns desses exemplos, você coça a cabeça e pergunta: ‘Como esse conteúdo pode ser classificado como apropriado para as crianças assistirem?’”, questionou Winter. “Isso remete ao sistema de classificação de conteúdo e como ele é implementado. Cada rede de TV decide por si mesma o que classificar um programa em termos de classificação de conteúdo”, lamentou.

 

No Brasil, esse sistema segue um modelo diferente, sob responsabilidade de um órgão central, chamado Coordenação de Classificação Indicativa do Departamento de Promoção de Políticas de Justiça e subordinado ao Ministério da Justiça.

 

“Eles [emissoras de TV] sabem que, se o classificarem apenas como público adulto a maioria dos anunciantes não o patrocinará, porque a maioria dos anunciantes não patrocina conteúdo com classificação adulta porque eles não querem que suas marcas estejam alinhadas com esse conteúdo”, pontuou Winter.

 

“As redes podem pegar conteúdo explícito e classificá-lo de maneira imprecisa, conforme apropriado para crianças, de modo que os anunciantes permaneçam e também os pais sejam induzidos a permitir que as crianças assistam a essas coisas”, sublinhou o especialista, que acrescentou que o comitê de monitoramento encarregado de supervisionar o sistema de classificação de TV é “composto pelos mesmos executivos que avaliam o conteúdo”.

 

“Isso significa que a FCC entregou a supervisão do sistema de classificação para as mesmas pessoas que determinam quais são as classificações. Este é um exemplo claro da raposa que guarda o galinheiro”, ironizou.

 

Agora, o PTC está pedindo uma revisão regulamentar do sistema de classificação de 22 anos para ver como é melhor reformá-lo para ser mais útil para os pais. “Há um tremendo movimento em direção a isso. Tivemos reuniões no Capitólio, até mesmo o presidente Trump depois do tiroteio em Parkland, na Flórida, falou sobre como os sistemas de classificação ajudam os pais”, explicou Winter.

 

“Fomos convidados para a Casa Branca para discutir como a mídia violenta está sendo comercializada para as crianças. É também uma mídia sexualmente explícita e uma mídia profana. Todas elas recebem avaliações dos produtores e distribuidores que sugerem aos pais que não há problema em crianças para assistir”, criticou.

 

Winter chamou atenção à coincidência de que o relatório do PTC tenha sido divulgado no momento em que as notícias estão circulando sobre a saída do ex-presidente e CEO da CBS, Les Moonves, após enfrentar várias acusações de mulheres de abuso sexual. “Aqui você tem na vida real alguém sendo responsabilizado por seu comportamento. Mas na televisão agora, você é convidado a rir e se divertir [com um] diálogo discutindo esse mesmo tipo de comportamento”, ironizou, novamente.

 
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