“Eu oro pela liberdade e paz da Nigéria”, disse sobrevivente de ataque do Boko Haram

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A comunidade internacional não pode parar as buscas pelas estudantes desaparecidas, sequestradas pelo Boko Haram na Nigéria há dois anos, segundo disse uma das mulheres jovens que conseguiram escapar.
Falando em uma audiência no Congresso em Washington na quarta-feira, a jovem que Sa’a (nome fictício) recordou a noite de 14 de Abril de 2014, quando militantes do Boko Haram invadiram sua escola em Chibok, no estado de Borno, no norte da Nigéria.

 

Ela disse que os jihadistas gritavam “Allahu Akbar” (Alá é o maior), quando eles entraram na escola, forçando todas as meninas a saírem de suas camas e salas de aula.

 
“Em seguida, eles começaram a queimar tudo – nossas roupas, nossos livros, nossas salas de aula – tudo em nossa escola”, disse ela.

 
Os militantes, em seguida forçaram as meninas a subirem em seus caminhões. “Se não obedecêssemos, eles iriam atirar em todas nós”, disse ela.

 
Sa’a e uma amiga conseguiram saltar do caminhão e se esconderam em uma floresta. “Eu preferia morrer para que os meus pais encontrassem o meu corpo na floresta e pudessem enterrá-lo ao invés de ir junto com o Boko Haram”.

 

 

Futuro

 
Sa’a agora vive e frequenta uma faculdade nos Estados Unidos, com o apoio da ‘Educação Deve Continuar’ – uma instituição de caridade que busca apoiar as vítimas da insurgência do Boko Haram. Cerca de 3.000 crianças e jovens refugiados voltaram a estudar por meio desse programa.

 
No entanto, a jovem permanece preocupada com as dificuldades ainda vividas por milhões de pessoas na Nigéria.
Um relatório divulgado pela organização ‘Human Rights Watch’ (HRW) em abril advertiu que um milhão de crianças têm pouco ou nenhum acesso a escolas, como resultado dos ataques do Boko Haram.

 
Mais de 910 escolas foram alvo do grupo extremista islâmico, cujo nome significa “educação ocidental (ou não-islâmica) é um pecado”. Pelo menos 611 professores foram deliberadamente mortos e outros 19 mil obrigados a fugir. No mínimo 1.500 escolas foram fechadas.

 
Cerca de 1,4 milhões de crianças têm sofrido com a guerra na Nigéria, ficando sem escolas e sem suas casas. (Foto: Reuters)

 
Em um vídeo divulgado no mês de maio de 2014, um líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, disse que as mulheres e meninas continuarão a sendo sequestradas para que sejam “doutrinadas no caminho do verdadeiro islamismo” e para garantir que elas não freqüentem mais a escola.

 
A luta provocou uma crise de refugiados em grande parte não declarada com um número estimado de 2,2 milhões de pessoas deslocadas, incluindo 1,4 milhões de crianças. Apenas cerca de 10% estão em campos de refugiados reconhecidos pelo governo, onde há alguma escolaridade. Os outros 90% estão vivendo com amigos e membros da família, com pouco ou nenhum acesso à educação.

 
O pesquisador Mausi Segun, da ‘HRW’, disse: “Em sua cruzada brutal contra a educação de estilo ocidental, o Boko Haram está roubando o futuro de toda uma geração de crianças no nordeste da Nigéria”.

 

 

Investimento

 
Sa’a quer estudar ciências e medicina e usar seus conhecimentos para ajudar seu país, mas não sabe quando ele será um lugar seguro o suficiente.

 
“Muitos vivem com medo a cada dia. Suas casas foram queimadas, muitas pessoas não têm um lugar para dormir, comida para comer ou roupas para vestir … O governo nigeriano prometeu reconstruir a escola de Chibok, mas ela continua destruída, dois anos após o ataque”, disse ela.

 
“Graças a Deus, estou segura aqui nos EUA e indo bem com os meus estudos, mas eu me preocupo com a minha família na Nigéria. As pessoas me perguntam se é seguro que volte para a Nigéria. Eu pergunto: ‘será que alguém está seguro no norte da Nigéria?”, relatou.

 
Sa’a lembra de ter visto um vídeo divulgado pelo Boko Haram no aniversário de dois anos do sequestro das meninas de Chibok.

 
Acredita-se que mais de 200 meninas sequestradas naquela noite ainda permanecem em cativeiro. As filmagens, teriam sido feitas no dia de Natal do ano passado, mostraram 15 meninas usando ‘hijabs’ (turbantes) pretos e falando com um operador de câmera.

 
Foi a primeira visão possível das meninas desde que o Boko Haram divulgou um vídeo delas em maio de 2014.
“Estou contente de ver que alguns deles estão vivos”, disse Sa’a. “No momento em que as vi e reconheci os seus rostos, comecei a chorar, com lágrimas de alegria rolando dos meus olhos, agradecendo a Deus por suas vidas. Vê-las vivas me deu mais coragem para não desistir. Vê-las me deu a coragem para dizer ao mundo de hoje que não devemos perder a esperança”.

 
“Eu sonho e oro pela liberdade, segurança e paz na Nigéria”, afirmou.

 
GUIAME

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