Evangélicos são maioria entre policiais que expressam fé nas redes sociais, diz estudo

Um levantamento realizado para compreender o comportamento dos policiais sobre manifestações de fé nas redes sociais concluiu que não é comum que estes servidores públicos façam publicações deste tipo, mas dentre os que fazem, a maioria parte de evangélicos.

A empresa Decode, especializada em análise de dados, monitorou a atividade de 879 membros das polícias Militar, Civil e Federal para mapear o comportamento dos policiais nas redes sociais, prioritariamente o Facebook. O relatório do estudo foi divulgado na última terça-feira, 22 de setembro, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Dentro do universo pesquisado, 76% dos agentes não registraram atividade relevante em páginas religiosas. Entre os 24% restantes, 160 policiais (18%) compartilharam publicações de teor evangélico, sobretudo de igrejas pentecostais ou neopentecostais como Assembleia de Deus e Igreja Universal do Reino de Deus.

De acordo com informações da Folha PE, esse número é mais que três vezes superior à soma de publicações feitas por católicos (27), espíritas (23) e de religiões de matriz africana (2). Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP, comentou que a maioria dos policiais é comedida nas redes “por saber que estará sendo supervisionada, e há vários regulamentos sobre o que policiais podem ou não fazer”.

Trocando em miúdos, a conclusão é que mesmo que os policiais tenham vida religiosa ativa, há a tendência de não fazer exposição na internet. Lima, que é sociólogo, declarou que não vê surpresa no fato de que a maioria dos policiais que faz publicações de cunho religioso seja evangélica, uma vez que a profissão em si enfrenta deficiências crônicas historicamente, e quem está na ponta, executando o trabalho de segurança pública, sempre é cobrado.

“Problemas da área são transformados em problemas morais, associados ao certo e ao errado, às condutas individuais das pessoas”, avaliou. “Na prática, isso não permite que pensemos a segurança como política pública, com a responsabilização de toda a cadeia do comando. Ficamos sempre julgando o policial na ponta da linha. Isso abre espaço para grupos religiosos se apropriarem politicamente do debate e acolherem os profissionais com mensagens de pertencimento e reconhecimento”, acrescentou, em tom crítico.

Na avaliação do presidente do FBSP, a Igreja Universal é quem mais tem colocado ações objetivas em prática para atrair policiais: “A Universal está modulando o discurso do [partido] Republicanos para contemplar demandas ‘terrenas’ da base policial”, disse, reverberando uma compreensão generalizada de que a legenda é o braço político da instituição.

“Há aqui um movimento para assumir o controle da narrativa de que Bolsonaro defende os policiais, quando na prática ele não é nada diferente de outros governos na pauta das corporações e não atendeu a demandas históricas, como a criação do Ministério da Segurança”, comentou Lima, omitindo que o presidente conciliou a promessa de campanha de redução das pastas com a criação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

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