Glenda Kozlowski, Fernanda Gentil e Cristiane Dias falam de futebol, assédio e Copa do Mundo

RTEmagicC_b98ca43be2.jpg Um privilégio. Pode até soar como clichê, mas é assim que os profissionais envolvidos na cobertura da Copa do Mundo no Brasil, que começa na quinta-feira, classificam a maratona de trabalho que têm pela frente. Para Glenda Kozlowski, Fernanda Gentil e Cristiane Dias, a sensação não é diferente. As três estão na equipe da TV Globo, ao lado de 2.500 profissionais da emissora, espalhados pelos quatro cantos do país.

 

“Desde que eu soube que a Copa seria no Brasil, estou agradecendo por ter nascido aqui, por ter a idade que tenho, estar onde estou. Se fosse um pouco antes ou depois, acho que não seria a mesma coisa. Para nós, jornalistas, trabalhando com esporte, este momento é um marco. Demos muita sorte”, empolga-se Fernanda, de 27 anos.

 

Desde o início do mês, a missão da repórter é acompanhar todos os passos da seleção brasileira em flashes ao vivo para os telejornais matinais, incluindo o Globo Esporte, apresentado por Cristiane e, durante a Copa, exibido para todo o país; e o Esporte Espetacular, aos domingos, com Glenda e Ivan Moré. Agora, portanto, futebol é o assunto predominante na vida do trio. Descanso, só depois da final, no dia 13 de julho.

 

“Olha que engraçado, mas é até difícil você pegar gripe numa cobertura dessas. Um mês de adrenalina, você não desliga, está empolgada. Mas, depois, também… A imunidade baixa e você está esgotada (risos)”, diverte-se Glenda.

 

Há 20 anos na profissão e aos 39 de idade, a apresentadora pode até ser chamada de veterana: a Copa de 2014 será a sua sexta. As memórias, Glenda guarda com carinho.

 

“Em 1994, fui para a Granja Comari pela primeira vez. Cheguei e vi Romário, Bebeto… e eu não tinha muita noção da grandiosidade daquilo. Lembro que levei uma camisa e pedi para eles assinarem. Um mico”, relembra, bem-humorada. “Quando o Brasil ganhou foi uma alegria única, a da jornalista, da torcedora, da atleta (ela era bodyboarder). Mas teve o lado ruim também. Em 2006, na Alemanha, o Brasil foi eliminado em um sábado, e o Esporte Espetacular foi ar no domingo em que eles estavam saindo do hotel. Foi difícil ancorar aquele programa”.

 

Distinguir o lado profissional do pessoal em momentos como esses é realmente complicado, elas admitem. E Fernanda manda logo avisar: caso o Brasil seja campeão, vai ser praticamente impossível manter a compostura.

 

Nosso papel é ser imparcial, ficar distante. Mas vai ser o evento mais difícil de separar a jornalista da torcedora. Já falei: se o Brasil for campeão posso passar direto no RH. Não sei se vou rir, chorar, jogar o microfone para o alto, pular em cangote de jogador (risos)”, brinca ela, em sua segunda Copa.

 

Cristiane, de 33 anos e também duas Copas no currículo, diz que dificuldade de se segurar também existe nos momentos de tensão. E principalmente nas derrotas.

 

“Para os espectadores, qualquer pergunta que a gente faz para os jogadores parece óbvia, né? Sei que, em casa, as pessoas pensam: ‘Mas como você está perguntando se ele está triste?’”.

 

Saias-justas
Para que nenhum detalhe escape ou para evitar saias-justas no ar, as meninas vêm dando um reforço nos ‘estudos’. Nada muito aprofundado, já que, para quem trabalha com esporte, “as pesquisas acontecem naturalmente”. “Como apresento o “Globo esporte”, acompanho diariamente tudo o que acontece. Mas comprei o álbum e gosto de almanaques também. Sou meio nerd, gosto de escrever, fazer um apanhadão”, conta Cristiane.

 

Ao lado dela fica o filho Gabriel, de 4 anos, apaixonado pelo esporte. A primeira palavra do menino – filho do ator Thiago Rodrigues – foi ‘gol’, durante a Copa de 2010. “Durante a Copa, eu ficava muito em casa, porque morava de frente para o trabalho. Estava vendo um jogo com ele e Gabrielzinho, que não falava nem mamãe e nem papai, falou gol”, relembra.

 

Mais uma vantagem de cobrir a Copa no Brasil, diz Glenda, é a possibilidade de estar perto da família. Principalmente perto dos filhos Gabriel, de 18, e Eduardo, de 8.

 

“Meu filho mais novo é apegado. Ele nasceu em 2005 e quando fui para a Alemanha ele não tinha nem 1 ano… e nem dente. Quando voltei já tinha dente e não quis vir para o meu colo, sabe? Agora, é a primeira vez que ele tem noção do que a mãe faz. Está achando incrível”.

 

Mas, mesmo por perto, assistir aos jogos com aquele grupo de amigos ainda é algo inimaginável para os envolvidos no campeonato. “Ah, eu sempre assistia à Copa com uma galera, fazendo altas brincadeiras, todo mundo junto. Agora, a gente destoa da maioria”, diz Fernanda.

 

Cristiane completa: “Mas, em compensação a gente curte de um jeito muito bacana. No dia seguinte da vitória da Copa das Confederações, recebemos o David Luiz e o Tiago Silva no estúdio. Quem tem esse privilégio?”.

 

Jogadores

Por falar nos jogadores da seleção, as moças garantem que a relação é de total respeito e que nunca ouviram gracinhas dentro ou fora de campo. Seja pela beleza ou pelos conhecimentos futebolísticos.

 

“Hoje em dia, se isso acontecer, dá para sair numa boa, rindo, com descontração. E já caiu por terra essa história de que mulher não entende de futebol. Eu nunca senti nada”.

 

Pelo menos nas ruas, elas contam, as três funcionam como ‘guias’ para aqueles que querem saber tudo sobre futebol. Desde o porteiro do prédio aos amigos homens, elas estão sempre ouvindo as mais variadas questões sobre o esporte.

“Eu costumo dar até uma cortada, porque às vezes fica chato. Você vai à praia e o cara do mate pergunta; sai à noite, as pessoas do bar perguntam. E não param”, conta Fernanda.

 

Mas, afora as perguntas do tipo ‘quem é o jogador mais marrento’, ‘o mais legal’ ou ‘o mais gato’, uma não quer calar. O Brasil sairá campeão?

 

Brasil x Argentina

“O roteiro que a gente espera é com o Brasil vitorioso na final, mas sabemos que há pedras pelo caminho, né?”, analisa Cristiane.

 

Glenda é mais otimista. Ela não imagina outro resultado que não o Brasil hexacampeão. “Eles estão loucos de vontade de ganhar. Imagina, não dá para olhar para o banco, ver o Felipão (técnico) e o Parreira (comissão técnica) e fazer cagada em campo. Eu acho que os jogadores pensam assim e estão prontos para a pressão”.

 

Fernanda concorda: “Sem clima de oba-oba, mas estou confiante de que eles estão loucos para ganhar. Começa pelo hino. Lembro-me do Marcelo (lateral-esquerdo) falando que, quando eles ouvem a torcida cantando o hino, dá vontade de comer grama (risos)”.

 

Para a final, em 13 de julho, todas esperam o confronto entre Brasil X Argentina. Considerando a vitória verde e amarela, lógico. Uma provável disputa com Alemanha também assusta Glenda.

 

Já Fernanda confessa que tem ‘medo de tudo’. “Tudo pode acontecer. Dar branco, dar preto. O esporte é imprevisível”.

 

Empolgadas com os 64 jogos que vêm por aí, elas esperam que a torcida vista, de vez, a camisa canarinho. Sem timidez.

 

“Eu falo para os amigos: ‘Desculpa. Eu não tenho que ter vergonha de gostar de Copa’. Gosto e estou feliz da vida que vai ser no meu país. O brasileiro tem que encarar isso como uma chance de mostrar o que o Brasil tem: a simpatia, a hospitalidade, o talento do futebol que está em todo canto do país”, defende Glenda.

 

Fernanda completa: “Tem que saber separar. A Copa não é a vilã de tudo o que está acontecendo. Esporte também é educação, saúde. Outubro está aí, com eleições, para a gente consertar o que acha que está errado”, avalia.

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