Leonardo Gonçalves: “Se limitar é uma maneira de forçar a criatividade”

416849859-Desafio. Este foi uma das expressões que o cantor e compositor Leonardo Gonçalves usou para definir o seu mais novo CD / DVD “Princípio”, lançado recentemente pela Sony Music Gospel.

 

Em uma conversa franca com o Portal Guiame, o músico falou sobre a produção deste trabalho que contou com um formato instrumental mais “simplificado” e as expectativas que o álbum tem gerado com relação à sua repercussão.

 

Entre alguns “segredos” que o cantor revelou nesta entrevista está o fato de o momento “piano e voz” da gravação ser cheio de [bem sucedidos] improvisos musicais.

 

“Eu queria um pouco esse lance da insegurança, do frio na barriga, principalmente nesse momento e eu acho que deu muito certo”, destacou.

 

Confira a entrevista na íntegra, logo abaixo:

 

Portal Guiame: Este seu novo DVD ao vivo apresentou um nível já esperado por quem conhece o seu trabalho, mas ao mesmo tempo trouxe algumas “surpresas”, como por exemplo, o baixista Duca Tambasco (Oficina G3) com uma participação especial. Como estas ideias foram surgindo?

 

Leonardo Gonçalves: Na verdade, o meu grande desafio foi traduzir um repertório meu, de mais de uma década, que sempre teve uma presença muito forte de muitos elementos, como vocal, orquestra, metais, harpa… Nunca me limitei nessa questão de instrumentação. Para mim, o grande desafio era traduzir este repertório, que é muito variado em termos de estilos musicais, inclusive, para uma instrumentação bem básica: uma bateria, um baixo, uma guitarra e um teclado. Creio que muitas das surpresas musicais – por assim dizer – advém desta limitação e isto gerou a necessidade de rearranjar as canções. Quanto à participação do Duca, a gente é muito amigo. Eu tenho muita amizade com o pessoal do Oficina G3, com ele [Duca], o Mauro e o Jean, que são os três com quem eu mais convivo… também tenho um relacionamento bom com o Juninho. O Aposan – que já não faz mais parte da banda [mas esteve como eles até pouco tempo atrás] gravou a bateria da gravação original de Getsêmani, em 2001. A ideia de chamar o Duca surgiu em uma conversa com o Hugo Pessoa – diretor deste DVD. Falamos sobre participações especiais e, como ele é um amigão nosso em comum, eu perguntei: ‘Cara, seria demais colocar o Duca para tocar um baixo acústico, de terno e gravata em uma música nada a ver?’. Acabou que foi uma ideia do Hugo também. Ele [Duca] botou um terno, pegou o baixo acústico e tocou a música mais parada do DVD inteiro. Este tipo de leveza na hora de fazer as coisas ajuda muito para que as ideias fluam.

 

Guiame: Você comentou agora que o Duca tocou a música mais “parada” de todo o DVD. Talvez isto tenha surpreendido o público em um sentido de quebrar um paradigma que ainda existe: ‘um roqueiro tocando uma música lenta, de outro estilo musical’. Como você estas possíveis reações?

 

Leonardo Gonçalves: Eu acho que estranhamento é uma coisa boa, quando se trata de arte. Eu acho que para o público dele talvez vá causar algum estranhamento, mas quem não é fã do Oficina G3, acho que nem vai estranhar. Vai ser “normal”, porque a música é linda, o arranjo é belíssimo, ele toca pra caramba, o som do baixo acústico ficou lindo. Talvez não haja tanto estranhamento assim. Na verdade eu nem o chamei de Duca e sim de Eduardo Tambasco – que para mim, ele é as duas coisas. Muitas pessoas próximas – amigos, familiares – estavam preocupadas sobre eu conseguir manter esta instrumentação de só quatro músicos durante o DVD todo. Cheguei a pensar: “Oh, cara! Vamos chamar uns metais, fazer uma coisa diferente”, mas eu consegui manter este formato, inclusive sem mais vocais (somente uma participação especial de vocal que eu tenho em Getsêmani, até mesmo porque nesta música, é essencial). Mas até nas outras músicas que tinham mais vocais nas versões originais, eu fiz sem. O meu desafio era esse: me limitar para que a criatividade fosse forçada a aparecer. Você se limitar é um jeito de forçar a criatividade.

 

Guiame: Como você mesmo falou, selecionar músicas dentro de um repertório de mais 10 anos de carreira é algo desafiador. Quais foram os seus critérios para escolher as músicas deste DVD?

 

Leonardo Gonçalves: Para mim, a segunda parte do DVD já estava bem definida. Ela começa com a música judaica de Isaías 53 (“Nachamu, Nachamu”), passa para “Getsêmani”, passa para “Ele Vive”, passa para “Novo”, passa para “There” (em inglês) e passa para “Princípio e Fim”. Para mim, essa sequência é a das minhas apresentações, é lógica e teológica. O quebra-cabeça era mais para arrumar a primeira metade. É na primeira metade que estão as músicas inéditas. Algumas músicas já ficaram de fora, por duplicidade… então se vai cantar uma música sobre cruz, ou é Getsêmani ou é Moriá. Não dá para fazer as duas. Aí acabei escolhendo “Getsêmani” até mesmo por razões óbvias. Assim, nesta mesma linha, teve vários casos. Algumas outras canções ficaram de fora por questão de instrumentação. Sou muito cobrado pela música “Jamais”, por exemplo, que acabou não entrando no DVD. Mas eu decidi não coloca-la porque não tinha orquestra. Na minha opinião, esta música precisa de uma orquestra. Outra música que não entrou por este mesmo motivo foi “Ele Virá” (aquela que começa com a introdução do versículo bíblico de Apocalipse 14). Eu até poderia ter tentado rearranjar esta segunda, mas ela também não entrou porque eu não iria aguentar vocalmente, cantar “Getsêmani”, “Ele Vive”, “Ele Virá” e “Novo”. Essas quatro seguidas, eu acho que não aguento cantar. Três eu até aguento, mas essas quatro, lá em cima, eu fiquei com medo, achei que o risco era muito grande [risos]. Algumas “ficaram de fora”, mas tem um momento do DVD, que é só teclado e voz. Aí eu dou uma pincelada em todas as músicas que marcaram a história do meu ministério, pelo menos, senão a dos ouvintes… Então eu dou uma “colherzinha de chá”, por assim dizer [risos].

 

Guiame: Por falar em trechos de Piano / teclado e voz, sabe-se que não é fácil se apresentar neste formato e alcançar um alto nível de apresentação. O que você considera necessário para uma boa apresentação (seja de piano e voz ou de voz e violão)? Técnica? Sensibilidade? Segurança?

 

Leonardo Gonçalves: Intimidade. Eu acho que essa é a palavra. Eu conheço o Samuel [tecladista] – que é o principal arranjador (e rearranjador) deste DVD – desde 2004 e a gente trabalha junto desde 2007, ou seja, há 7 anos, constantemente. A gente fez muito piano e voz nestes 7 anos! Muito mesmo! No projeto Redenção (idealizado pelo Pr. Eli, da Igreja Presbiteriana da Saúde), onde gente vai praticamente de três em três meses, em São Paulo, a gente já fez muito piano voz. Com isso, começou a rolar um diálogo, uma simbiose muito legal. Eu comecei a adivinhar o que ele ia fazer e vice-versa. Ainda assim a gente tentava surpreender um ao outro. A ideia de ter esse momento piano e voz neste DVD foi uma maneira que encontrei para celebrar esse nosso relacionamento musical, que amadureceu tanto no decorrer destes anos. Alguns dos momentos que eu mais gosto neste DVD estão ali no piano e voz. Tem uma parte muito legal na música “Muro”, que eu até viro para ele dou risada, porque eu fiz uma frase melódica que encaixou perfeitamente com o que ele fez harmonicamente. A gente não tinha combinado nada disso. O mais louco é que essa parte do piano e voz a gente não ensaiou. Apesar de serem músicas minhas, a gente nunca as tinha tocado juntos dessa forma.

 

Guiame: Então, apesar de ser a gravação de um DVD, houve bastante improviso musical?

 

Leonardo Gonçalves: Totalmente! Este foi o momento do improviso! Total! Embora a gente tenha muito esta intimidade, a maioria das músicas desta parte, ele [Samuel] nunca tinha tocado na vida dele. Ele teve que tirar e aprender a toca-las para esta parte do DVD. A gente não chegou a ensaiar. A gente só passou uma vez na casa dele, para ver se os tons estavam todos certos. Mas eu queria um pouco esse lance da insegurança, do frio na barriga, principalmente nesse momento e eu acho que deu muito certo.

 

Por João Neto – www.guiame.com.br

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