Pastor sobe morro para orar e desaparece por quatro dias

Um pastor foi encontrado neste sábado (12) depois de ficar quatro dias desaparecido em um morro em que ele subiu para orar, na Serra, na Grande Vitória. O religioso saiu de casa na última quarta-feira (9) com destino ao Morro do Vilante e se perdeu na mata.

“Eu tenho bastante experiência de subida em montes, mas naquele ali eu nunca tinha ido, e depois que eu fui saber que lá só tinha uma descida. Pra eu encontrar essa descida eu tive que descer, mais ou menos, umas sete ou oito vezes e sempre parecia que eu estava andando em círculo, não conseguia achar a saída. Eu tinha levado uma garrafa com um litro de água e essa água deu pra eu passar até às sete horas da noite. No outro dia não tinha mais água”, contou o pastor.

Na sexta (11), terceiro dia desde que o pastor havia sido visto pela última vez, agentes do Corpo de Bombeiros se reuniram e montaram uma estratégia para manter as buscas mesmo durante a noite e debaixo de chuva. Os filhos do pastor Antônio Marcos Paes, de 49 anos, acompanharam a operação de resgate e contaram que o pai quis ir sozinho ao local.

“O hábito da oração é constante e presente na vida dele. Desde a sua juventude, dos seus 18 anos pra cá, ele tem muito o costume de estar orando. Algumas igrejas que ele dirigiu, que ele foi pastor, ele tinha o costume de subir o [monte] Mestre Álvaro, o Pitanga, fazendo campanha da água ungida. Infelizmente acredito que ele se perdeu no caminho de volta pra casa e com certeza a gente acredita que ele está perdido”, disse Marcos Paes, filho do pastor, durante as buscas.

Ainda na sexta, durante a tarde, o helicóptero do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer) foi acionado para ajudar na operação. Moradores da região contaram que ouviram gritos vindos da direção do morro que podiam ser do pastor desaparecido.

“Cedo eu estava varrendo aqui fora e eu ouvi os gritos de socorro. Só que não dei muita atenção. Passou um pouco. Lavei umas peças de roupa no tanque e continuou gritando. Gritava lá: ‘socorro, socorro'”, contou a aposentada Terezinha Maria Leite.
Um cão farejador foi usado nas buscas durante a noite. Os bombeiros percorreram os principais acessos ao morro e foram até o ponto mais alto para procurar o pastor.

Antônio Marcos demorou mais de 10 horas para chegar no ponto mais alto e conversou com a esposa por aplicativo de mensagens durante todo o trajeto. Ele chegou a mandar fotos da vista e até de uma fogueira feita por ele.

Às 19h30 de quarta, o pastor fez o último contato com a esposa antes de desaparecer. Ele enviou um áudio avisando que passaria a noite no morro e que só desceria no dia seguinte.

“Eu não vou conseguir chegar lá embaixo hoje porque eu tive que romper muito mato no peito para chegar até aqui. Aí para mim chegar aqui agora e já descer, eu tô tão cansado que é perigoso. Aí eu acho que eu vou ficar por aqui, amanhã cedo acordo mais tranquilo, aí eu pego e desço”, dizia o pastor no áudio o qual a reportagem teve acesso.

A família esperou por Antônio Marcos durante toda a quinta (10), mas o pastor não chegou em casa e parou de fazer contato com a esposa. A família ficou apreensiva sem saber o paradeiro dele.

“A preocupação é falta de alimentação, tá machucado, alguma pessoa que disse para nó que tem conhecimento desse morro disse que te cobras, animais peçonhentos. Então a preocupação é dele ter sido picado por algum animal – Deus me livre e guarde, espero que não – a falta de alimentação e hidratação. Ele tem pressão alta, toma remédio. A preocupação maior é essa, em relação à saúde dele e a falta de alimentação”, disse o filho do pastor.

O pastor foi encontrado durante a manhã deste sábado e recebeu um primeiro atendimento dos bombeiros no posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Serra.

Em um vídeo enviado à TV Gazeta, o pastor relatou os momentos de tensão que viveu até ser encontrado.

“Eu encontrei uma bromélia, eu virei ela, extraí a água dela, consegui encher a minha garrafa d’água e ali eu consegui descer. Quando eu cheguei lá embaixo eu estava muito fraco e não conseguia achar a direção certa pra conseguir sair de lá. Tinha momentos que eu achava que não ia sair vivo de lá. Quando foi ontem [sexta] na hora de descer, eu encontrei uma vala de pedra onde desce a água e eu tenho essa experiência que, mais ou menos, onde tem essa saída de água da chuva, esses lugares costumam ter saída livre pra água, então foi onde que eu fui descendo”, relatou Antonio Marcos.

G1 Foto: Reprodução/TV Gazeta

OUTRAS NOTÍCIAS